// Nininha Guimarães dos Santos

Organizada, super-activa, deliciosamente espontânea, Nininha Guimarães do Santos recebeu-nos no seu atelier com um sorriso na cara. Quis ser bailarina, tocou piano, veio de malas e bagagens do Porto para Lisboa, vibra com bossa nova /tango e sons do brasil , e descobriu já depois dos 40 a paixão da joalharia.


Uma mulher forte com um talento especial, que, em conjunto com uma equipa de colegas ( já do tempo da escola Ar.Co), desenha e executa peças personalizadas, minimais, encantadoras.
Diz que destesta aqueles que agradam a Gregos e a Troianos, mas a nós parece-nos difícil que não agrade a toda a gente... Adorámos a pessoa em si, e o seu trabalho, que, segundo ela, é o seu perfil.
Num cantinho na Baixa, convivem alicates e soldaduras, velas de cheiro, joalharia e talento. Vejam as peças maravilhosas que vos mostramos e fiquem com a entrevista.
Visitem o espaço!

// Interview

// Nininha Guimarães dos Santos

Qual foi o seu percruso antes de descobrir a paixão da joalharia?
Queria seguir Belas Artes, mas acabei por tirar Psicologia. Comecei a trabalhar no Ministério do Trabalho, onde fiquei 15 anos e depois representei, em conjunto com amigos, uma marca de roupa. Com 42 anos, decidi pensar noutra coisa... e assim surgiu a joalharia.
Quando e como nasce o atelier?
O meu atelier nasceu três anos depois de eu ter feito o curso de joalharia, no Ar.Co (que é, para mim, a melhor escola, pela liberdade criativa e pela dinâmica e talento de todas as pessoas que lá trabalham) em Dezembro 2003.
O atelier nasceu porque eu gostava realmente de trabalhar naquilo em que trabalho hoje. Então surgiu este espaço, que era uma loja e atelier de uma colega minha; aluguei-lho e, mais tarde, acabei por lho comprar. Este espaço foi um acaso...
Na altura, eu não explorava este espaço sozinha; éramos um grupo de colegas chegados da escola e decidimos criar este projecto comum. Com o passar do tempo, fiquei só eu, com a Susana Van e a Rita Faustino; depois o Artur Madeira juntou-se a nós.


Sendo assim, o objectivo nunca foi meramente comercial?
Não, de maneira nenhuma. Este é um atelier com perspectivas diferentes; procuramos um trabalho muito mais personalizado e, devido a isso, ganhámos muitos clientes.
Para além d as encomendas personalizadas os clientes pedem muito a transformação de peças que já não gostam; umas interessantes, outras menos... e o nosso trabalho é torná-las mais bonitas. Muitas vezes, trazem-nos coisas sem valor comercial, mas com muito valor sentimental. Já aconteceu a transformação ser tal, que até nós nos surpreendemos. Apesar de uma certa limitação da margem para trabalhar com essas peças, geralmente as clientes confiam e os resultados são satisfatórios.


Pode dizer-se então, que o seu atelier tem uma faceta de “clínica artística”?
Sim, mas tem que haver um limite, uma noção mínima, que, por vezes, falta. Já aconteceu pedirem-nos para fazer imitações de Bvlgari’s ou Cartier’s. Mas isso recuso imediatamente, não faço. Quem quer, tem que comprar. Quando muito, podem transmitir-me uma ideia para eu interpretar...o resultado final passa pela interpretação da pessoa e da minha, pelo que acaba por ser diferente.
Penso também que, este atelier, para além de um atelier de joalharia, acaba também por ser um atelier de arte, já que “vive” da alma e da criatividade dos artistas/artesãos que aqui trabalham.


Qual a faixa etária das vossas clientes?
Temos clientes de todas as idades... Até aos noventa e tal anos... Isto também porque as pessoas sabem que eu faço um tipo de trabalho de recontextualização das peças.


Actualmente, quais são as tendências?
Eu não sigo tendências de moda, nunca segui; claro que há coisas que gosto, mas, para mim, as tendências não são uma regra a seguir. A maior parte das vezes transformo, intervenho, porque gosto de coisas personalizadas. Não consigo pensar em tendências de massa e, sinceramente, às vezes o gosto das pessoas espanta-me; para mim, antes de mais, os gostos discutem-se... Não digo que tenho bom ou mau gosto, é o meu! E o balanço que tenho tido até agora é positivo.
Depois, acho que tem tudo a ver com o corpo que usa a peça... o gosto é pessoal, único e a joalharia é aquilo que pode marcar a diferença, romper com essa imposição das tendências e dizer um pouco sobre a pessoa. Por isso é que, quando as pessoas fazem encomendas de peças para oferecer, eu preciso de saber para quem é...e saber a idade, se a pessoa em questão é conservadora ou não... isto para ajustar a peça à cliente.

O meu trabalho é muito experimental... as coisas acabam por nunca ficar como as pensaste à partida, porque ao longo do processo de criação as coisas vão-se transformando, vais sempre tendo ideias, destróis, soldas, derretes, bates... E as coisas acabam por ficar lindíssimas.


Quais as técnicas e os materiais que vocês mais usam?
Bem, é sempre um processo muito manual. Trabalhamos muito com alicates, soldaduras... Quanto aos materiais, posso quase dizer que trabalhamos com tudo!... a lista vai desde o papel ao ouro!


Qual a diferença entre bijutaria e joalharia?
Na bijutaria compra-se tudo feito e monta-se; na joalharia desenhamos e executamos tudo. Na joalharia, as peças não são industrializadas, são feitas, personalizadas e montadas por nós. Por exemplo, as peças de algodão da Rita são jóias em crochet, em linha de algodão. A joalharia pode ser feita em papel, em linha... E muitas vezes as pessoas não estão abertas para perceber isso, ficam agarradas a conotações. É como ires ver o urinol do Marcel Duchamp... para alguns é uma obra de arte, para outros é só um urinol.
Na joalharia podes explorar as técnicas, a criatividade, o azar ou a sorte da execução... é um processo interessantíssimo.


Onde é que já expôs o seu trabalho?
Já expus em muitos países da Europa, no Brasil, Marrocos e Rússia.


E qual a opinião lá fora acerca do trabalho dos portugueses na joalharia?
Os portugueses são considerados o supra-sumo! Lá fora as condições das escolas são espectaculares e imensos estrangeiros querem vir para cá estudar; por exemplo, os japoneses têm escolas em Tóquio para as quais adorava ir, e querem vir estudar joalharia para Portugal.


E executa alguma coisa em férias?
Claro! Sou incapaz de estar parada. Para mim, tem sempre de haver uma componente de trabalho e criação; aliás, para mim, isso é que são férias! Fui passar o mês de Setembro ao Brasil com a Rita e corremos todas as retrosarias (chamadas “armarinhos” no Brasil). Comprámos sacos e sacos de material e fiz imensas coisas... A Rita faz um trabalho muito minucioso, trabalha com fio da algodão da espessura de cabelos e fez uma mala maravilhosa. Eu fiz, sem exagero, pelo menos sete carteiras grandes, trabalhadas, que ofereci às pessoas que lá moravam.


Então, mais que um trabalho, a joalharia é sempre um prazer...
Sim, completamente! E infelizmente, hoje em dia, é impossível viveres da joalharia. Os artistas nunca foram ricos, nem vão ser, vão ter que ter sempre mecenas.


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Doce ou salgado?
Salgado.
Preto ou branco?
Preto.
Chá ou vinho?
Chá.
Música favorita?
Depende dos dias. Gosto muito de música clássica, sobretudo de Beethoven, que me transporta; gosto de jazz, Bossa Nova e da música da Luísa Possi, uma brasileira que mescla tango com samba.

Cinco coisas sem as quais não pode passar sem?Dinheiro, amor, amizade, sol e território (não necessariamente por esta ordem).

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//Teorias Simples
Nininha Guimarães dos Santos

Rua de São Julião, 7
1100-524 Lisboa
Tel – 21 887 75 25


Aberto de 2.ª a 6.ª feira
Das 10.30 às 19.30 (Nininha diz que se os clientes quiserem, o atelier fica aberto até mais tarde)


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